sábado, 13 de março de 2010

"muiticidade"

8 de Março de 2010Crítica - Alice In Wonderland (2010)
Realizado por Tim Burton
Com Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway


Viajar até ao belo, magnífico e, por vezes, excêntrico mundo de Tim Burton é um autêntico privilégio que os cinéfilos da actualidade têm nas suas vidas. Estamos a falar de um dos melhores e mais fascinantes realizadores de todos os tempos. Responsável máximo por algumas das obras mais míticas e adoradas da Sétima Arte, tais como “Big Fish”, “Edward ScissorHands”, “Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street”, “Ed Wood”, “Sleepy Hollow”, entre outras, Burton já nos habituou a testemunhar histórias deliciosamente mágicas, inspiradoras e encantadoras. Histórias que nos arrancam do duro e cruel mundo em que vivemos e nos transportam para reinos de pura magia onde tudo parece ser possível e exequível.



“Alice In Wonderland” – o seu mais recente filme – não foge à regra. Ao longo dos 108 minutos de película, Burton assombra-nos e leva-nos a um local sublime e simplesmente maravilhoso, um local cheio de cor, fauna e flora, repleto das personagens mais doces, loucas e inesquecíveis. Porém, infelizmente, o argumento desta nova versão da imortal história de Lewis Carrol não consegue estar à altura da genialidade do realizador e, inevitavelmente, acabamos por cair numa sucessão de eventos previsíveis e, a tempos, amputados da consistência emocional e dramática que se exigia. E como consequência, “Alice In Wonderland” desabrocha numa visualmente bela e fascinante experiência cinematográfica sem grande equilíbrio narrativo. A narrativa apresenta-nos uma Alice diferente da que estávamos habituados a ver. Nesta versão de Tim Burton, Alice (Wasikowska) encontra-se nos últimos anos da adolescência e, consequentemente, naquela particular fase da vida em que ainda somos assombrados pela dúvida e incessantemente procuramos um rumo e uma identidade própria e segura. A visita que Alice fez ao reino de Underland enquanto criança não passa agora de uma mistela de memórias confundidas com sonhos infantis. E numa Londres do século XIX, após perder o seu pai – seu grande suporte emocional – Alice vê-se confrontada com a obrigação de arranjar um bom partido num Lorde inglês que não ama e por quem não nutre grande empatia. Instigada pela mãe e restantes familiares a aceitar o pedido de casamento deste Lorde, Alice sente-se perdida e decide fugir para os campos verdejantes da enorme mansão onde a festa de noivado deveria decorrer.
É nesses campos que ela volta a deparar-se com o pequeno coelho branco do relógio tilintante e, sem hesitar, decide persegui-lo até uma toca escura e profunda. Após cair, mais uma vez, na toca do coelho, Alice vai regressar ao reino de Underland para, aos poucos, descobrir que este está muito diferente desde a última vez que o havia visitado. Pois a Rainha Vermelha (Bonham Carter) continua a aterrorizar o seu povo de forma verdadeiramente impiedosa. E regressada a um mundo do qual não se lembra, Alice encontra no Chapeleiro Louco (o fabuloso Johnny Depp) a sua principal salvaguarda contra a difícil e virtualmente impossível tarefa que lhe põem em mãos: enfrentar o temível dragão negro da Rainha Vermelha para derrotá-la, devolver a coroa à meiga e caridosa Rainha Branca (Hathaway) e assim devolver a paz e a prosperidade a este autêntico mundo encantado.
Uma coisa é certa: a nível visual, “Alice In Wonderland” é brilhante e simplesmente fascinante. A criatividade de Burton e da sua equipa não tem limites, pelo que somos constantemente presenteados com inúmeras sequências de grande arrojo estético e visual. Aliado a esse facto, o 3D enaltece ainda mais a beleza dos cenários e a espectacularidade da película, provando que assenta que nem uma luva neste tipo de produções épicas, grandiosas e visualmente arrebatadoras. O problema é que esta componente isolada não chega para nos oferecer um grande filme. Aparte todos os seus méritos, “Alice In Wonderland” falha no aspecto mais essencial: a qualidade do seu argumento. De facto, por vezes, a narrativa perde força e interesse, acabando mesmo por se tornar demasiado aborrecida e previsível. O grandioso elenco bem tenta manter o espectador colado à tela, mas infelizmente, nem sempre o consegue. Há certos pontos da história em que tudo decorre exactamente como seria de esperar. O que num filme… nem sempre é bom, já que não dá lugar a qualquer acontecimento surpreendente e inesperado.
Para além da referida e elogiada componente visual, o grande trunfo do filme acaba por ser o suspeito do costume nas obras de Burton: Johnny Depp. Que palavras para descrever a sua visão do Chapeleiro Louco? Apenas uma: espectacular. Pelos posters e pelos trailers, não seria difícil adivinhar que esta personagem acabaria por apagar Alice e surgir como personagem principal do filme. Assim sendo, não é com grande surpresa que vemos a personagem de Depp reservar para si os grandes momentos da película. Será prematuro falar em mais uma nomeação ao Oscar para Depp? Talvez, mas espero que se concretize. E já que estamos a falar do elenco, aproveitemos para falar de Mia “Alice” Wasikowska. A jovem escolhida pelo realizador acusa alguma falta de experiência e não consegue transmitir a força necessária à sua personagem. Expressivamente limitada, Wasikowska não consegue fazer com que Alice se destaque. Algo que é fundamental num blockbuster deste tipo. Mas ainda assim, ela consegue cumprir minimamente o seu papel. Wasikowska ainda é muito jovem, pelo que terá muito tempo para melhorar a sua performance. Por enquanto, tem já as portas de Hollywood bem abertas. Oxalá consiga aproveitar esta oportunidade de ouro.
Para terminar, devo dizer que “Alice In Wonderland” me decepcionou um pouco. Não é um fiasco; longe disso! Mas apesar das suas qualidades, ficou a milhas daquilo que eu estava à espera. Menção honrosa para a admirável dupla Burton-Depp, para a grande maioria do elenco e também para uma sequência de batalha final deveras interessante e apelativa. Pena é que o argumento não tenha estado à altura da ocasião.

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